quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

 

     "É tempo de te aperceberes de que tens algo em ti mais poderoso e milagroso do que as coisas que te afetam e te fazem mover como uma marioneta. O que está nos meus pensamentos neste momento? Medo? Inveja? Desejo? Sentimentos semelhantes? 

     Marco Aurélio, Meditações, 12.19


Há muitas forças que atuam sobre cada um de nós, vindas do exterior, e que nos distraem do que deve ser decisivo, verdadeiramente importante para a nossa constituição ética. Muitas forças que nos afetam fazendo-nos sentir como "marionetas", expressão do filósofo estoico e Imperador Romano Marco Aurélio (121 - 180 d.C.). Ou seja, forças que abalam e constringem a nossa liberdade, portanto, que nos desviam de intenções e motivos que ou não são realizados de todo, ou apenas parcialmente. No século II d.C., na experiência deste filósofo, tais "forças" poderiam ser as bisbilhotices, os boatos, as rotinas, as opiniões comuns. Hoje, além destas, certamente outras e talvez mais poderosas são as que parece provirem de dentro dos indivíduos (parecem ser voluntárias): as estratégias publicitárias de apelo (agressivo) ao consumo, os videojogos que viciam e alguns dos quais incitam à prática da violência, as redes sociais digitais, as festas noturnas (nalguns casos com álcool e até com drogas), a participação em grupos nos quais se pratica e exibe violência (bullying). 

A grande pergunta ética é esta: 

em que medida o que eu quero é, realmente, o que eu quero por mim mesmo, ou no fim de contas é apenas uma reprodução do que alguém quer que eu faça e que me manipula a fazer (ainda que disso não me aperceba) ?

Afinal, é necessário um grande esforço para não sermos marionetas !


NÃO SERÁ TUDO ISTO UM GRANDE  PESSIMISMO?

TALVEZ NA REALIDADE NINGUÉM SEJA MARIONETA E

MARCO AURÉLIO É QUE ESTAVA ENGANADO, 

O SEU PENSAMENTO É QUE É MANIPULADOR ?! ... 

AFINAL, AS MARIONETAS NÃO SABEM QUE SÃO MANIPULADAS !...


domingo, 20 de novembro de 2022


COMO VIVER HOJE ESTOICAMENTE?


O principal sobre a vida é isto: distinguir e separar as coisas e dizer: ‘As coisas exteriores não estão sob meu encargo, a capacidade de escolha está sob meu encargo. Onde buscarei o bem e o mal? Nas minhas coisas.’ Quanto às coisas de outrem, jamais as chames de boas ou más, benéficas ou nocivas.” 

( Epicteto, Diatribes, 2-5, 4-5 )

(Epicteto (50 d.C. - 138) foi um mestre do estoicismo do período romano)


1. Epicteto aconselha a realizarmos um sério discernimento ético sobre a  demarcação entre interior e exterior, dito de outro modo, entre o que está sob o poder individual e o que está fora desse poder, entre o que depende de nós e o que não depende (ainda que possa parecer). Temos aqui a primeira tarefa ética: aplicar a razão para perceber os nossos limites. Pode parecer fácil, mas talvez não seja. Não é claro à partida o que consideramos ser o nosso poder, por muitos motivos: não nos conhecemos suficientemente, estamos em constante mudança, criamos ilusões e somos iludidos sobre o que de facto podemos, etc. O reconhecimento dos limites é, então, uma aprendizagem frágil, contraditória, mas inevitável (não pode ser descartada).

2. Epicteto associa o interior às experiência da escolha: apenas o indivíduo pode escolher (ainda que, eventualmente, escolha não escolher); se outros escolhem por ele, então a escolha não é dele, ou seja, ele não escolheu, é-lhe exterior. Já sabemos que o ato de escolher pressupõe a liberdade da vontade (o livre arbítrio). Numa dada situação, delimitado pelas circunstâncias ou condicionantes, cada indivíduo exerce a sua liberdade precisamente na justa medida em que escolhe no seu interior e expressa a escolha a outros indivíduos. Também, sabemos que as escolhas não são neutras, pois projetam consequências, abrem caminhos para o futuro numa espécie de rede de sentidos (uma certa lógica de escolhas com afinidade entre si): por exemplo, furtar algo que não me pertence potencia-me para um sentido de ilegalidade, aliás de criminalidade, pode tornar-me delinquente. Por conseguinte, as escolhas estão ligadas a outra separação com mais intensidade ética: a distinção entre o bem e o mal. Se escolher fosse indiferente, sem consequências benéficas ou nocivas, para mim e para outros indivíduos (incluindo a Natureza), não haveria problemas. Pelo contrário, o que e como escolho não tem nada de neutro, sobretudo em certas circunstâncias - naquelas em que eu mesmo ou os outros são beneficiados ou prejudicados.

3. Entre várias dificuldades da escolha está a de escolher apenas o que se pode mesmo escolher. Por vezes, talvez escolhamos o que, afinal de contas, é inevitável: por exemplo, alguém pode pensar que pode escolher sonhar (enquanto dorme), mas isso não está ao seu alcance; ou pode pensar que pode escolher adormecer, mas também isso não está ao seu alcance; ou que pode escolher ser cidadão duma sociedade ocidental, mas isso não está ao seu alcance e, se poder vir a alcançar a cidadania dum país não ocidental (por exemplo a Rússia), ainda assim não deixará de pensar completamente como um cidadão ocidental. O Estoicismo apela à sábia aceitação pacífica, sem resistência para não sofrer demasiado, daquilo que é inevitável (utiliza a ideia de "necessidade") - tudo o que não está ao alcance ou no poder de cada indivíduo, seja da Natureza ou da Sociedade. Para quê lutar contra o que não pode ser vencido?!

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DESAFIO:


O que é que tudo isto tem a ver comigo, connosco, hoje ?!

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Não original (extraído da Internet)

Não original (extraído da Internet)
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Entre várias propostas de apresentação histórica do Estoicismo (filosofia estoica) e do seu valor, incluindo os nossos tempos, fica aqui a sugestão seguinte:





O que podemos esperar da Filosofia?

 Pode a Filosofia ajudar-nos a VIVER MELHOR ? 

Arrisco dizer que cada filosofia, no seu próprio estilo, pode contribuir para organizar critica e argumentativamente o pensamento. 

Ora, se é muito discutível aceitar que seja possível viver sem pensamento crítico e argumentativo (pelo menos num grau reduzido), então é plausível considerar que, mais ou menos, da filosofia de cada filósofo há de ser possível extrair implicações para pensarmos e agirmos de modo diferente: com mais consciência crítica, com mais fundamentação, com mais criatividade, com mais liberdade.

Na senda deste horizonte de possibilidades colocadas pela Filosofia, passarei a tomar de empréstimo algumas frases de filósofos estoicos (a filosofia estoica remonta ao século IV antes de Cristo, na Cultura Grega), a partir das quais farei as minhas reflexões apenas para provocar os comentários de quem quiser partilhar algumas ideias (a favor ou contra), que representem a possibilidade de iluminar filosoficamente a vida.

Com intuito meramente sugestivo, chamar-se-á:

COMO VIVER HOJE ESTOICAMENTE?

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

DIA  MUNDIAL  DA  FILOSOFIA  

Desde 2002, em que a UNESCO (Agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), instituiu a terceira quinta-feira de novembro DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA, todos os anos, em muitos países, nas mais diversas formas e em diferentes setores da sociedade, sobretudo na educação e na cultura, continua a dedicar-se especial atenção à valorização da Filosofia nas sociedades humanas. 
Neste ano, celebra-se hoje, dia 17 de novembro.

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     A Filosofia é muito mais do que aquilo que conhecem pela disciplina escolar com o mesmo nome; é um dos saberes mais antigos, que se formou no século V a.C. (antes de Cristo), no tempo de Sócrates (como já sabem). Muitos são os argumentos para justificar a tese sobre a importância individual e coletiva da Filosofia ao longo dos séculos, em diferentes épocas históricas, desde a Antiguidade grega, latina e cristã, passando pela Idade Média, pela Modernidade, até à Contemporaneidade (ou Pós Modernidade). Genericamente, a Filosofia contribui para estimular e desenvolver o pensamento crítico, argumentativo, autónomo e inovador, contra dogmatismos, insensibilidades culturais, ignorância, autoritarismos ideológicos. 
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ARTIGOS EM DESTAQUE:

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VÍDEO EM DESTAQUE:


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Vem a propósito citar o lema do Iluminismo, na versão do filósofo Immanuel Kant:

ATREVE-TE A PENSAR !!!

E deixa aqui os teus comentários filosóficos,
no exercício da tua autonomia, liberdade e criatividade !

sábado, 24 de setembro de 2022


HOJE VALORIZA-SE OU NÃO 

A EXPERIÊNCIA DO CUIDADO ?

   

QUESTÕES PARA REFLETIR:


1. Vivemos hoje em sociedades nas quais se apela ao cuidado de cada um consigo mesmo e  com outrem? 

   1.1 Se sim, quais são os tipos de cuidado que culturalmente são mais valorizados? 

   1.2  E quais os que são menos valorizados?

   1.3 Existem condições igualitárias para todos os indivíduos terem acesso a técnicas de cuidado de si mesmos?

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2. Ou pelo contrário, os indivíduos não são estimulados socialmente a exercerem o cuidado,  ou seja, este não é um tema fundamental nas sociedades atuais?

   2.1 Hoje, não interessa valorizar o cuidado, porque os grandes intresses são produzir,  consumir, lucro, sucesso, riqueza material?

   2.2 As sociedades são injustas porque não valorizam de igual modo os indivíduos e porque não promovem a solidariedade, por isso apenas alguns (os mais favorecidos) têm condições para cuidarem de si.

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TEXTO PROPOSTO PARA ANALISAR E COMENTAR:


    Na chamada Pós-Modernidade, em diversas sociedades e de modo crescente, sob o intenso impulso da neoliberalismo político e sobretudo económico, que tem proliferado em sociedades massivamente tecnológicas, os indivíduos têm sido formatados para produzirem e consumirem, de acordo com interesses de poderes conómicos e políticos. E se estes valorizam o cuidado de saúde física e mental dos indivíduos, é para que precisamente tragam vantagens a tais poderes: serem os indivíduos mais eficazes enquanto produtores e consumidores, mesmo que lhes seja dito que é bom ser saudável, é bom ser feliz, é desejável o bem-estar, a sua liberdade é muito valorizada.   (Adelino Ferreira)

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Uma palestra de

BERNARDO TORO

(filósofo e pedagogo colombiano)

no TEDx - Amazónia (10-5-2011)


https://www.youtube.com/watch?v=7oUUTuOx3eU&t=394s

terça-feira, 20 de abril de 2021


SERÁ CONSISTENTE A CRENÇA TEÍSTA 

DA EXISTÊNCIA DE DEUS?!



    TIPOS DE ARGUMENTOS 

PROPOSTOS NA FILOSOFIA DA RELIGIÃO:


A PRIORI 

(a partir de noções ou conceitos evidentes)

(ex: ONTOLÓGICO)


A POSTERIORI

(a partir de conhecimentos da experiência)

(ex: TELEOLÓGICO/DO DESÍGNIO)

(ex: COSMOLÓGICO)


PROPONHA DOIS ARGUMENTOS CONCISOS, 

PELOS QUAIS PRETENDA JUSTIFICAR RACIONALMENTE

A CRENÇA NA EXISTÊNCIA DE DEUS.


Sugiro que assista a esta entrevista do

Professor Doutor Domingos Faria (3 de abril de 2021)

link: https://www.youtube.com/watch?v=zedGZ8U3v84 )



Partilho o acesso a um ficheiro meu em PDF, com conteúdos sobre Filosofia da Religião,

lecionados na disciplina de Filosofia - 11.º ano, em turmas da Escola Secundária Fernando Namora, no presente ano letivo:

https://drive.google.com/file/d/1OxiSaLMEE_PZ0tmE0XB3M9Oq3akXOgtT/view?usp=sharing



 FILOSOFIA DA RELIGIÃO  

  ALGUMAS DICOTOMIAS ESSENCIAIS 
DA 
EXPERIÊNCIA RELIGIOSA:

CRENÇAS E FÉ VERSUS DESCRENÇA E REJEIÇÃO

SAGRADO VERSUS PROFANO

TRANSCENDENTE VERSUS IMANENTE

ESPIRITUAL VERSUS MATERIAL

BEM VERSUS MAL

MORALIDADE VERSUS IMORALIDADE

SALVAÇÃO VERSUS CONDENAÇÃO

SENTIDO VERSUS DESESPERO

sábado, 10 de abril de 2021

 

                   Fotografia do Deserto do Sahara

           

            O CUIDADO DE SI 
e a metáfora do DESERTO

O Deserto é o espelho de mim mesmo: através do silêncio consigo reconhecer-me (melhor). E por meio do reconhecimento consigo cuidar de mim mesmo.

Portanto, o silêncio é um meio de acesso ao cuidado do sujeito consigo mesmo.


Pablo D'Ors:


"Quero dizer que nós somos deserto. É verdade que temos muitas coisas, muitos pensamentos, atividades, muitos valores e problemas, mas se formos tirando tudo isto, descascando essas coisas, deparamo-nos com o que somos: um espaço. Num teatro pode haver muitos cenários, decorações e personagens, mas se os tiramos, o teatro continua. Então, a pergunta que está por detrás deste livro [Pablo D'Ors, O Amigo do Deserto], como de todas as novelas sérias de literatura, é: "Quem sou eu?" E aqui a resposta é: "Tu és espaço, tu és deserto. (...) 

No meu entender, a necessidade primordial do homem contemporâneo, do europeu médio que tem as suas necessidades básicas asseguradas, é o silêncio. Isto é, temos um problema relacionado com demasiado ruído, exterior e interior. Por isso, falar de ruído é falar de dispersão. E o nosso principal problema é estarmos em muitas coisas e em nenhuma. Há um défice de atenção. Simone Weil dizia que "amar é estar atento". Por isso, se queres saber o que amas, procura saber a que é que estás atento.

O que o silêncio nos dá, fundamentalmente, é clareza mental, uma clareza cordial, afetiva. Habitualmente, temos muita confusão na cabeça e no coração. Então, no silêncio, paramos, escutamos, observamos e, assim, toda essa confusão e ruído vai-se, gradualmente, acalmando e isso permite-nos ver com maior clareza. Este é o primeiro fruto. O segundo fruto é a humildade, porque quando passas a ver com clareza, então podes ver-te a ti mesmo de modo claro. Assim, deixas de te autoafirmar permanentemente, como habitualmente fazemos, e passas a viver com uma atitude mais sensata, mais realista e mais modesta sobre quem tu és na vida. E uma vez que isto te dá humildade e claridade, também te dá coragem, é esse o terceiro fruto do silêncio. Ou seja, dá-te capacidade de arriscar, de apostar, de decidir, de fazer opções, de te bateres por aquilo em que acreditas. E, por último, se tens coragem, humildade e clareza, és fecundo, não és passivo, dás fruto. Por isso creio que o silêncio muda profundamente a vida das pessoas."

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Excertos da entrevista de Aura Miguel a Pablo D'Ors

[ Em linha:  https://rr.sapo.pt/2019/11/05/religiao/temos-muita-confusao-na-cabeca-e-no-coracao-o-que-o-silencio-nos-da-e-clareza/noticia/170516/ ]

Publicado em 5-11-2019, 11:10

Acedido em 10-04-2021 

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O CUIDADO DE SI E DOS OUTROS perpassa as crenças, por exemplo as que se inscrevem no horizonte da experiência religiosa, porque, entre outros motivos, o cuidado diz respeito à valorização de algo essencial e que é colocado no âmbito do sentido da existência: a relação com o Sagrado, o Transcendente, o Divino ... com Deus (na perspetiva do teísmo).

No contexto do estudo sobre vários temas da Filosofia da Religião (nas aulas no AEFN), parece-me muito interessante sugerir a leitura e a análise crítica do artigo de opinião "Religião e espiritualidade", do Professor Doutor Anselmo Borges, padre católico e professor de Filosofia e de Teologia em diversas universidades.

Eis o link do artigo publicado no Diário de Notícias, em 25 de agosto de 2019:

https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/religiao-e-espiritualidade-11233427.html

Coloco aqui um excerto:

1. Não haja dúvidas. A religião, concretamente na Europa, também entre nós, está em queda. O número de agnósticos e de ateus aumenta, para não falar na chamada "prática religiosa", que desce a olhos vistos. O padre José Antonio Pagola escreveu recentemente um texto com o título "Depois de séculos de 'imperialismo cristão', os discípulos de Jesus têm de aprender a viver em minoria".


Conto com comentários, questões, críticas, sugestões!...